O Horse Economic Forum (HEF) teve o prazer de entrevistar Frederico Pinteus: cavaleiro, juiz, treinador e organizador de concursos.
HEF: Qual será o grande desafio que o setor equestre enfrentará durante 2024?
FREDERICO P.: A nível nacional, o aumento generalizado dos custos conjugado com a insuficiente produção e reduzida escala nacional e a escassez de mão-de-obra, em especial nos centros hípicos que se encontram localizados nas imediações dos centros urbanos, colocarão um desafio importante ao sector equestre.
Em termos internacionais, penso que assistiremos a uma continua e crescente pressão de certos grupos ativistas no sentido da não utilização de animais no desporto. Sendo o ano de 2024 um ano de Jogos Olímpicos, é muito provável que aproveitem a oportunidade para ganhar maior exposição mediática.
Os temas relacionados com sustentabilidade e as alterações climáticas, continuarão a assumir uma relevante preponderância, ainda que, talvez, de forma menos imediata/intensa que os anteriores.
HEF: Uma inovação equestre que desejaria para 2024?
FREDERICO P.: Um sistema eficiente e economicamente viável de reaproveitamento de água. Creio que a escassez de água é um problema muito sério, e no setor equestre não existem ainda soluções viáveis. Em 2019, certas zonas da África do Sul ocorreu uma situação de seca extrema, e pude observar vários sistemas que foram desenvolvidos, alguns deles quase domésticos, para conservação e reaproveitamento de água. Hoje, essas zonas estão melhor preparadas e são mais eficientes do ponto de vista energético. É um típico caso de “a necessidade aguça o engenho”. Assim, talvez não seja necessário “reinventar a roda” basta apenas aprendermos com quem já lidou e mitigou/resolveu a situação.
HEF: Quais as três tendências do setor equestre para 2024?
FREDERICO P.: Creio que a transformação digital vai introduzir-se cada vez mais no setor equestre. Acredito que progressivamente vamos assistir, a todos os níveis, à introdução de equipamentos e de software que irão substituir algumas tarefas e processos que hoje são executados manualmente.
A responsabilidade ambiental será também uma tendência crescente. Vamos ter de encontrar formas de continuar a desenvolver a atividade mas de um modo energeticamente mais eficiente e com maior consciência ambiental.
Apesar das entidades financeiras preverem um ligeiro abrandamento do turismo em Portugal para 2024, ainda assim este continuará a ser um importante setor para Portugal, por isso o setor equestre vai necessitar de maior exposição, e de ofertas mais atrativas e diversificadas, para tirar o máximo partido do turismo nacional e estrangeiro.
HEF: Qual a grande oportunidade do setor equestre para 2024?
FREDERICO P.: Na minha opinião, o setor equestre continua a trabalhar de forma muito individualizada, algumas vezes empírica e outras vezes arcaica. No último Horse Economic Forum, a Vogal do Conselho de Administração da Companhia das Lezírias, Exma. Sra. Eng.ª Isabel Vinagre referiu que: “(…) os tempos atuais não se compadecem com amadorismos nem empirismos (…)”, e eu estou totalmente de acordo com esta opinião. A grande oportunidade que temos, que está ao alcance de todos, e sem custos acrescidos, é de trabalharmos mais em conjunto, procurando sinergias, compreendendo o que cada um faz melhor e acrescentando valor através dessa conjugação de esforços. No último Horse Economic Forum ouvimos excelentes apresentações, foram lançadas ótimas ideias e desafios, mas é necessário passar das palavras aos atos.
HEF: Qual a maior ameaça do setor equestre para 2024?
FREDERICO P.: Na resposta à primeira pergunta identifiquei algumas situações que se não forem analisadas e tratadas de forma célere e adequada têm potencial para se transformarem em ameaças ao setor.
Outra ameaça pode surgir do Individualismo e empirismo que referi anteriormente. A nossa escala e localização geográfica faz com que os projetos individuais, especialmente na área do desporto, sejam muito exigentes, quer em termos económico quer em termos de esforço, por isso entendo que é importante combinar valências e unir esforços, apesar de isto não ser muito típico em Portugal.
Por outro lado, a atividade diretamente relacionada com os cavalos, nomeadamente criação e ensino dos cavalos, leva tempo e os riscos são consideráveis, pelo que é importante que exista uma aproximação ao meio científico e académico e uma sustentação em dados objetivos. A ideia de “(…) faço assim porque sempre fiz assim”, pode resultar em pequena escala, mas dificilmente vigará se em projetos de maior ambição
HEF: Quais as profissões equestres com mais futuro nos próximos 10 anos?
FREDERICO P.: As profissões ligadas ao bem-estar animal – uma vez que a consciencialização do bem-estar animal é crescente -, e as que se dediquem à digitalização do setor nas suas diversas áreas/vertentes.
HEF: Qual o cavalo da sua vida? Como o descreve?
FREDERICO P.: Até ao momento, pois espero ter mais cavalos que possam entrar nesta categoria, o cavalo da minha vida foi um Puro-sangue Lusitano, de nome “Plangente”, da Coudelaria Maria Adelaide Vilhena D`Andrade. Foi o primeiro cavalo que ensinei e competi desde as provas Preliminares (nível mais baixo) até ao nível Grande Prémio, e que depois serviu de school master a dois alunos meus, um deles tendo inclusive ganho títulos de Campeão Nacional de Juvenis.
Era um cavalo dócil, sensível, com uma capacidade psicológica superior à sua capacidade física, e que era muito pronto a responder às ajudas do cavaleiro.
HEF: Qual a característica que mais aprecia num cavalo?
FREDERICO P.: Carácter/temperamento (forma do cavalo agir e reagir), o que na gíria designamos por “ter uma boa cabeça” – o cavalo que aceita o pedido do cavaleiros, e que coopera com esse pedido, mas também que tem temperamento suficiente para “chamar a atenção” do cavaleiro quando o pedido se torna desadequado. O cavalo que tem vontade de agradar ao cavaleiro (de trabalhar), por vezes supera os seus pontos menos fortes e alcança patamares e resultados que inicialmente não eram esperados.
Naturalmente que se tivermos a pensar na componente desportiva, a qualidade e elasticidade dos 3 andamentos e a conformação são características que obviamente aprecio.
HEF: Pessoalmente qual a(s) característica(s) que aprecia mais num/a cavaleiro/cavaleira?
FREDERICO P.: Sensibilidade, inteligência e autocontrole; e o que quero dizer com autocontrole é que o/a cavaleiro/a conhece e respeita os limites do seu cavalo.