Comportamentos como corcoveios, empinadelas, mordidas ou resistência ao ser montado são frequentemente interpretados como “mau comportamento”. No entanto, a evidência científica indica que, na maioria dos casos, estas reações constituem manifestações de dor ou antecipação de dor.
O cavalo não age por desafio ou rebeldia. Reage para evitar desconforto físico, que pode ter origem em múltiplos fatores: selas ou arreios mal ajustados, dor dorsal, alterações na região sacroilíaca, tensão muscular, claudicação ou patologias internas, como úlceras gástricas. Estes estímulos dolorosos podem dar origem a respostas comportamentais que se consolidam ao longo do tempo.
Sinais aparentemente subtis — cauda agitada, boca aberta, rigidez, alterações do olhar ou do andamento — devem ser valorizados como indicadores de possível sofrimento. Assim, antes de qualquer intervenção disciplinar, impõe-se uma avaliação clínica completa e uma análise cuidada do maneio e do equipamento.
Mesmo após a resolução da causa física, pode ser necessária uma reeducação comportamental gradual, baseada em princípios científicos, para restaurar respostas funcionais e seguras. Reconhecer a dor como origem do comportamento não é permissividade: é uma abordagem ética, responsável e alinhada com o bem-estar equino.
📌 Fonte: Christa Lesté-Lasserre — artigo de divulgação científica sobre comportamento e dor em equinos